DER TAGESSPIEGEL 15. November 2004 KLASSIK Ein Juwel namens Harfe Für Malerei besaß Georg Friedrich Händel ein erstaunliches Gespür: Vor allem die Bilder Rembrandts hatten es ihm angetan, und aus seinem Testament geht hervor, dass gleich mehrere Gemälde des Niederländers in Händels Londoner Wohnung hingen. Doch damit nicht genug: Mit seiner Aufführung des Saul in der Philharmonie suggeriert René Jacobs bezwingend, dass sich der "Messias"-Komponist bei seinen Oratorien von der rembrandtschen Licht-undSchatten-Dramaturgie inspirieren ließ, ja sie mit tonmalerischen Effekten geradezu nachahmte. Um diese verblüffende Analogie hörbar zu machen, dirigiert Jacobs mit dem RIAS-Kammerchor und dem Concerto Köln genau das Gegenteil von der landläufigen Ästhetik historischer Aufführungspraxis: Statt straff artikulierter Rhythmen und rhetorisch prägnanter Melodiefloskeln stellt er gerade die oszillierenden Mischklänge in Chor- und Orchesterpart heraus, hüllt die Helden in weiches, mystisches Licht, aus dem instrumentale Farbtupfer wie Harfe, Glockenspiel und Orgel ebenso hervorstechen wie Gold und Juwelen auf Rembrandts Gemälden. Dass diese Analogie im "Saul" besonders deutlich wird, liegt freilich auch am Thema: Die alttestamentarische Geschichte um den Untergang des an Verfolgungswahn leidenden Königs bietet reichlich Gelegenheit, malerische Szenen zu entwerfen und barocke, von archaischen Urgewalten geschüttelte Menschen zu zeichnen. Konsequent besetzt Jacobs die Solopartien deshalb auch mit großen, charakterstarken Stimmen: Mit dem israelischen Bassbariton Gidon Saks, der den Titelhelden affektgeladen als todwunden Löwen gibt; mit Emma Bell, deren widerborstige Prinzessin Merab mitunter hexenhafte Züge gewinnt und perfekt mit der ungetrübten Unschuld ihrer Schwester Michal (Rosemary Joshua) kontrastiert. Ein großer Abend. Hallelujah! Jörg Königsdorf |
Klassik Händel verstand es immer wieder, das Publikum mit geballter Kunst an der Nase herumzuführen. Als während der Machtkämpfe um die Oper in London die seinen nicht mehr zogen, wich er aufs Oratorium aus, aber nicht, ohne ihm zuvor einen Gutteil Oper einzuimpfen. "Saul" jedenfalls, jetzt von René Jacobs mit den denkbar vorzüglichsten Kräften in der Philharmonie aufgeführt, spielt durchgehend Oper im Oratorienversteck. Das glänzend eingespielte Concerto Köln erobert sich buchstäblich mit Pauken und Trompeten, Posaunen, Harfe und Glockenspiel, vereint mit dem wirkmächtigen und unvergleichlichen Rias-Kammerchor, das musikalische Geschehen auf unwiderstehliche Art. Die Solisten singen durch die Bank ausgezeichnet. Der traurige Held ist natürlich König Saul, der, dem jungen Volkshelden David gegenüber, auf die schiefe Ebene des Neids, der Mißgunst, der Hinterhältigkeit gerät und darüber zu Grunde geht. Gidon Saks gibt dem wetterwendischen Helden auch stimmlich hervorragende Statur. (Gtl) |
música fundação gulbenkian Bernardo Mariano EXCELÊNCIA. Fundado em 1985, o agrupamento Concerto Köln tem uma associação de longa data com Jacobs Há dois anos, sensivelmente por esta altura, ouviu-se no Grande Auditório do CCB uma notável interpretação da oratória Saul, de Händel, por Paul McCreesh e Gabrieli Consort & Players, mais um conjunto de solistas de primeira água, trazidos a Portugal pela mão de Jorge Gil e os "seus" Concertos Portugal Telecom/Em Órbita. Hoje, o público português vai poder voltar a ouvir esta grandiosa obra num concerto integrado no ciclo de música antiga da temporada da Gulbenkian. Desta vez, será maestro o belga René Jacobs, à frente do Concerto Köln, do RIAS Kammerchor e dum naipe de solistas constituído pelo baixo Gidon Sacks (Saul), tenor Jeremy Ovenden (Jonathan/Abner), contratenor Lawrence Zazzo (David), soprano Emma Bell (Merab), soprano Rosemary Joshua (Michal) e tenor Michael Slattery (Sumo Sacerdote/ Feiticeira de Endor). Com 58 anos cumpridos a 30 de Outubro último, o maestro René Jacobs é uma das autoridades máximas no actual panorama da interpretação da música antiga segundo critérios "de época", um estatuto que ele conquistou ainda na sua "primeira" carreira, quando se distinguiu como contratenor. Desde sempre tem acompanhado a sua carreira de intérprete, quer como cantor, quer como maestro, com o estudo e descoberta de obras esquecidas e/ou negligenciadas do repertório antigo, cuja revivificação a ele devemos. Desde os compositores maneiristas até Mozart e Gluck, Jacobs é, graças aos seus concertos e numerosas gravações, um intérprete de referência. A juntar aos muitos prémios que já recebeu, o mais recente foi-lhe concedido pela revista Gramophone, pela sua gravação de As Bodas de Fígaro, de Mozart, que lhe valeu os títulos de "disco do ano" e "melhor gravação de ópera do ano". A exploração por René Jacobs da música dramática (de G.F.Händel vem também de há muito, tendo ele sido um dos catalizadores da hoje assídua presença das óperas de Händel no repertório corrente. O concerto de hoje integra-se, aliás, numa digressão que precede a gravação discográfica deste Saul. Se em termos de orquestra - o Concerto Köln oferece todas as garantias duma boa prestação instrumental - e de coro (o Coro de Câmara da RIAS é especializado neste repertório e tem rotina de trabalho, quer com o Concerto Köln, quer com o maestro Jacobs) podemos ter garantias, a expectativa reside em saber como se irá comportar o sexteto de solistas vocais "escalados" por Jacobs para esta digressão, já que, com maior ou menor experiência e reconhecimento, todos são ainda relativamente jovens. A oratória Saul, em três actos, foi composta por Händel em 1738 sobre um libreto de Charles Jennens, o mesmo que assinaria o texto para O Messias. O sucesso que obteve não foi por acaso: Saul é uma das absolutas obras-primas da oratória händeliana. |